FUTEBOL - Em alta no mercado, técnicos estrangeiros podem deixar legado tático para futebol brasileiro

Os resultados mais expressivos do futebol brasileiro em 2019 tiveram o dedo (e as ideias) de técnicos estrangeiros. O português Jorge Jesus, pelo Flamengo-RJ,

e o argentino Jorge Sampaoli, até então pelo Santos-SP, construíram boas campanhas, conquistaram torcidas e, no caso de Jesus, títulos. Em alta no Brasil, é pouco provável que os treinadores possam ditar tendência, a longo prazo, de times comandados e vitoriosos com comandantes de fora. Ainda assim, os exemplos podem deixar legados ao futebol brasileiro.

É o que acredita o comentarista do Esporte Interativo e da TNT Bruno Formiga. Ele relembra que a febre estrangeira à frente de times brasileiros não chega a ser novidade. Entre as décadas de 1920 a 1940, eram os húngaros, como Béla Guttmann, a dominar o mercado brasileiro. Na Gávea, outro estrangeiro, Reinaldo Rueda, também treinou o Rubro-Negro. No São Paulo, Juan Carlos Osório e Diego Aguirre tiveram passagens. Isso para citar só alguns exemplos.

Também português, Jorge Jesus levou o Flamengo aos títulos do Brasileirão e da Libertadores

"É uma onda que já aconteceu aqui, mas que agora veio com um pouquinho mais de certezas, ou resultados", indica Formiga, indicando que isso se dá, porque "os dirigentes estão sendo obrigados a pensar diferente", uma vez que técnicos "tarimbados não têm entregado sequencialmente bons trabalhos".

Correspondente em Barcelona do Esporte Interativo, o jornalista Marcelo Bechler concorda que as contratações ainda não são tendência. "Acho que é pontual, até porque os grandes técnicos não vão querer vir pro Brasil", opina.

Moda ou não, certo é que, na esteira dos bons rendimentos, outros dirigentes têm buscado nomes no mercado internacional. É o caso do Santos, que, com a saída de Sampaoli, acaba de anunciar o experiente português Jesualdo Ferreira; o Internacional-RS contratou o argentino Eduardo Coudet; o venezuelano Rafael Dudamel está em conversações com o Atlético-MG; e o próprio Sampaoli ainda continua sondado por equipes brasileiras. Até mesmo a Canarinha Feminina tem agora à frente a sueca Pia Sundhage.

Há, então, de se aproveitar enquanto o momento dura. Para Bechler, os estrangeiros, com a possibilidade de, caso sejam demitidos, seguirem as carreiras nos países de origem, estão menos presos ao modelo "resultadista" que marca o futebol brasileiro. "Acho que os técnicos brasileiros pensam muito em manter os empregos, e para isso tem de ganhar de qualquer jeito. Porque é mais fácil ganhar de qualquer jeito do que ganhar jogando bem", explica.

O intercâmbio de ideias e certa modernidade podem render frutos. É como entende Formiga a estadia dos estrangeiros em solo tupiniquim. "O que esses caras podem trazer é bagagem tática, que a gente não tem. A gente não tem grandes pensadores do futebol. Somos pentacampeões do mundo, temos técnicos vencedores, mas não técnicos revolucionários. Muitas vezes é apenas um potencializador de talentos e não um criador de ideias. E esses caras (estrangeiros) são muito intensos nos jogos e nos treinamentos", comenta.

O argentino Jorge Sampaoli foi pretendido por Santos, Palmeiras e Atlético-MG

Para ele, os novos formatos executados pelos técnicos podem mudar, aos poucos, a cultura do jogador, dos treinos, e de como entender o jogo e o adversário. "Caminhando (assim) para a modernização", que é, no fim das contas, o que o futebol precisa, mesmo que esse update venha de cabeças nativas — como as de Tiago Nunes, do Corinthians-SP, e Rogério Ceni, do Fortaleza, que têm sido sopro de renovação.

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FONTE - O POVO
POSTADO POR GOMES SILVEIRA